sábado, 18 de janeiro de 2014

Caso 001 - O caso da virgem desvirginada

Os anos 90, foram o grande boom dos jogos de horror e sobrenatural. Vampiro a Máscara, Lobisomem o Apocalipse vendiam muito, e os RPGs brasileiros seguiram a tendência. Primeiro pela Editora Trama e depois pela Editora Daemon, foi lançado Arkanun (temática medieval) e Trevas (época moderna).
Para quem não conhece, o RPG Trevas tem uma temática mais madura, voltada principalmente para o público adulto, ele relata a batalha entre anjos e demônios, magos sombrios e diversas criaturas sobrenaturais. E, o personagem jogador interpreta na maior parte das vezes, uma pessoa normal que se vê da noite para o dia imerso neste mundo sombrio. Fiz uma aventura para este sistema, para o grupo do  prédio em que morava, e o resultado não podia ser mais inusitado.
Os jogadores começaram a me descrever os personagens: um policial ateu, um ladrão de carros latino, um iniciado nas artes místicas, um agente do FBI e um assassino serial profissional da yakuza homofóbico. Só por isso, já não daria certo. Mas como trabalho de mestre do jogo não é fácil, tive que reunir esta rapaziada, utilizando o truque 1 da lista do mestre, usar um NPC (personagem não jogador), que seria o eixo principal da trama.
Resumindo, o NPC contratou, subornou, ameaçou (entre outras coisas) para que os personagens invadissem um prédio, fossem até a cobertura e recuperassem algo que pertencia a ele (sem muitas especificações, bem vago mesmo para não estragar o clímax). Trama básica, simples até, os personagens entram, pegam o que precisam e saem, todos cooperando seria fácil, mas cooperar era uma palavra que este grupo não conhecia.
Eles entraram no prédio, graças ao ladrão, e descrevo a seguinte cena: "Vocês vem o sinal do elevador indicando que ele está descendo, quando a porta abre, vocês vêem um segurança, meio sonolento, o que vocês fazem?" O jogador com o assassino profissional, diz que atira no joelho do segurança!!!! já começou o drama. Como profissional, ele teria atingindo em um ponto vital qualquer, mas bem é ação do jogador, fazer o quê? Ele faz um teste e erra!!!! O segurança tem tempo de sacar arma e balear o iniciado em magia (ferindo-o gravemente), para depois ser fuzilado pelos outros personagens. No elevador o jogador do personagem do FBI e o assassino começam a discutir, cada um saca sua arma e começam um tiroteio (o assassino atira e mata o agente, e os outros personagens atiram nele) menos dois na aventura!
Então, para enfrentar o grande vilão sobrou apenas o policial ateu, o ladrão e o iniciado (que não adiantava muito coisa), como todo bom mestre, aumentei o clima dizendo que no corredor que dava acesso a cobertura, falei que tinha imagens de massacre, e etc.
Ao entrar na cobertura eles vêem a seguinte cena, no meio da sala, uma mulher nua presa a um altar ritual, e uma figura com aspectos demoníacos, prestes a finalizá-lo, segurando uma adaga. A chegada dos personagens o impedem momentaneamente. Para dar uma tensão maior, a figura sombria lança tentáculos de sombra e prende o ladrão e o iniciado, deixando livre o policial armado, o único que podia impedir o ritual. O que você faria nesta situação com este personagem?
Como percebi que o jogador estava sem ação, comecei a explicar o plano maligno, o vilão (um mago secular) tinha vendido a sua alma e precisava de tempos em tempos, fazer um ritual com uma virgem (a jovem que tinha sido sequestrada e o policial estava investigando) à meia noite, para permanecer vivo, e não perder sua alma. E para completar, o policial tinha uma habilidade especial chamada Sorte, que determinava que uma vez por partida, o personagem podia dizer uma ação na qual ele teria sucesso absoluto. E, o jogador tinha tentado usá-la ao longo da aventura, mas tentei convencê-lo a usar em um momento mais oportuno. E, lembrei ao jogador que ele poderia usar naquele momento.
O que o mestre aqui pensou: bem, ele é um policial ateu, tem uma mulher inocente presa e uma figura com uma adaga pronta para matá-la. Ele vai dizer que vai usar a habilidade Sorte, vai atirar e vou dizer que ele acertou na cabeça do vilão, impediu de matar a virgem, os minutos passaram, a criatura que comprou a alma do vilão vai recuperá-la (o algo que ele queria), descreveria a cena e deixaria os personagens partirem livremente. Fim de jogo todo mundo feliz, pelo menos os que restaram.
Então faço a pergunta crucial:
- O que você vai fazer?
E ele me responde:
- Vou desvirginar a virgem!
O queeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee??????
Pergunto novamente:
- Tem certeza de que vai fazer isso?
Ele responde que sim!
Só me resta descrever a cena: Você usa sua habilidade e corre em direção a vítima, e enfia o dedo vocês sabem aonde e desvirgina a moça! O vilão, enfia a adaga na vítima, mata os outros dois esmagados, agarra o policial e o joga para fora do edifício!
Fim, do jogo, mas não da piada da desvirginização, que continuou durante muito tempo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário